- Ana?
- Raul?!
- Nossa, quanto tempo! Não te vejo desde a última Era Glacial e pelo jeito você se congelou desde então né? Está mais linda ainda, e aí como está?
- Raul! É você mesmo? Que saudade! Que faz aqui no Rio?
- Claro, sou eu sim, então, vim pra um coquetel com bajuladores no Catete, estou lançando outro livro, e não sei porque vim lançar aqui no Rio, já que falo sobre um caso de adultério na Malásia, culpe os patrocinadores.
- Ah! Já ia me esquecendo. Este é Fred, Fred lembra que te falava de um amigo meu escritor, pois então, é esse, o Raul. E ainda não acredito que te encontrei por aqui.
- Oi Fred.
- Oi, você é baitola? Escritores e Poetas não são viadinhos?
- Não, sou Hetero.
- Mas gosta de Mulher?
- Sim, heterossexualismo é minha profissão.
- Hum,pensei que fosse escritor.
Silêncio, somente o barulho das espumas do mar do Arpoador.
- Fred, estou com uma dor de cabeça, busque uma água de coco pra mim ali no quiosque?
-Claro meu docinho, também estou com dor de cabeça, a minha está toda esfolada, HAHAHAHA, entendeu né baitola? Cabeça esfolada! Aí não me agüento, já volto meu benzinho.
- Não sou baitola, mas entendo sim.
Fred vai buscar a água de coco.
- Ana? O que houve? Fez regressão e foi parar na Idade das Cavernas e quando voltou tinha esse Neanderthal grudado em seus cabelos?
- Não seu bobo, ele é meu namorado, parece idiota mas é um amor de pessoa sim.
- Hum, entendo. Estou nessa de escrever sobre amor há 18 anos e concordo que tudo relacionado a isso no final sempre é bem idiota.
- Ah para! Você sempre sarcástico.
- Sempre nada, quem me dera fosse sempre, ainda mais o sempre estando acompanhado de sua companhia.
- Pare. Me diga, casado? Filhos? Morando onde?
- Bem, não sei direito, fiz vasectomia e estou morando em BH.
- Sério?
- Só a parte da vasectomia.
- Não brinque...
- Não fiz a vasectomia, ainda, mas sou solteiro e morando em BH sim.
- Nossa! Ainda não acredito que você está aqui! Emagreceu, vejo uns fios grisalhos ai já, ta charmoso hein Raul!
- Bem, é a vida de escritor Tupiniquim mesmo.
Fred, do outro lado da rua, dentro do carro buzina chamando Ana.
- Tenho que ir. Ah! O que vai fazer mais tarde? Hoje comemoraremos três anos de namoro e teremos festa no apto do Fred, por favor vá!?
- O quê? Três anos? Com ele? Meu Deus! Tudo bem, e onde fica a caverna? Outra coisa, esse Australophitecos evoluiu em três anos com você? Já faz pinturas rupestres na parede da sala?
- Coitado, não fale assim, você mal o conhece.
- Verdade, difícil fazer qualquer contato com um atraso evolutivo, mas bem interessante isso. Olha, anote meu número aí, depois das dez saio do banquete se quiser me ligue falando onde será o ritual que irei sim.
- Isso! Agora tenho que ir, pode deixar, não deixe de ir ta bem?!
- Beijo Ana!
- Beijo, até Raul!
Nesse momento fazem seis meses, seis dias e seis horas exatos que estou esperando o telefonema de Ana.
Talvez ela não ligou porque não tinha telefone na caverna, talvez porque ela não quis, talvez porque fui idiota e deveria ter pego o número dela, talvez também porque ela fez outra regressão e encontrou um Bárbaro da Bavária, talvez porque nada disso deveria ter acontecido, mas aconteceu. E o que passo de lição é que nunca deixe nada para depois, ao menos que você acredite em regressão e fique na espera de um Ser Superior Feminino localizada a anos-luz de nós que volte no tempo e te busque.
Enfim, desde o fato sou cobaia oficial do Centro Espírita Irmã Lucrecia Soares, dizem que uma luz de outro plano chamada M. Monroe levou meu antecessor, aguardo minha vez, que venha Greta Garbo!